Criptorquidia: Saiba Mais
Hospital Sírio-Libanês
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É a situação na qual um ou ambos os testículos não completam a descida normal até o escroto. O exame físico neonatal evidencia facilmente esta anormalidade, que ocorre em 3% dos recém-nascidos de termo, mas muito mais frequentemente (até 20%) nos prematuros.
Não se sabe a causa exata da criptorquidia, estando provavelmente envolvidos fatores hormonais e retardo no desenvolvimento fetal. Sabe-se que em cerca da metade dos casos o testículo pode completar sua descida até o escroto após o nascimento, sendo que com um ano de idade, apenas 1% dos meninos tem criptorquidia.
Se o testículo que está fora do escroto for identificado em posição mais alta, considera-se como criptorquidia propriamente dita. Por outro lado, quando adquirem ocasionalmente posição fora do escroto, estando na sua posição normal durante o repouso, denomina-se testículo retrátil. Ele decorre da resposta intensa a um reflexo do cordão espermático, desencadeado pelo frio, pelo medo e pela contração da musculatura abdominal, relacionada à atividade física.
Em algumas crianças, o testículo pode ser palpado fora do caminho natural em direção ao escroto, localizando-se, entre outros locais, na raiz da coxa ou no lado contralateral do escroto, denominando-se então testículo ectópico. Entre 10 e 20% dos casos não é possível palpar os testículos, seja por estarem ainda no interior do abdômen ou por não terem se desenvolvido normalmente (testículos impalpáveis).
O testículo retrátil, quando identificado corretamente, não necessita de tratamento, pois sabe-se que o mesmo se fixará definitivamente no escroto com o desenvolvimento da criança, sem qualquer comprometimento anatômico ou funcional.
Por outro lado, os testículos criptorquídicos, ectópicos e impalpáveis necessitam ser tratados, pois em posição anormal sujeitam-se a temperaturas mais altas que as do escroto, o que desfavorece o seu desenvolvimento e funcionamento normal. Assim, há grande probabilidade de ficarem atróficos e não produzirem espermatozoides, com consequente redução da fertilidade. Além disso, esses testículos têm maior risco de desenvolverem tumores, além de apresentarem com frequência uma hérnia associada, por dificultarem o fechamento normal do canal inguinal.
Tratamento
Antigamente preconizava-se o tratamento da criptorquidia apenas nas crianças maiores, mas hoje existem estudos que documentam lesões irreversíveis no tecido do testículo já a partir dos 6 meses de idade, razão pela qual os especialistas propõem o tratamento mais precoce. Considerando os aspectos cirúrgicos, anestésicos e psicológicos, a idade ideal para realização do tratamento situa-se entre seis e 18 meses.
As duas formas de tratar a criptorquidia são: hormonioterapia e cirurgia.
O hormônio gonadotropina coriônica humana (HCG), em doses apropriadas para a idade e peso da criança, pode favorecer a descida dos testículos, sendo mais útil nos casos em que a posição dos mesmos não é muito distante do escroto. Mesmo assim, a descida completa é observada em apenas 15 a 20% dos casos de criptorquidia. Por outro lado, para os testículos mais altos, bem como nos ectópicos, recomenda-se a cirurgia, denominada orquipexia.
Embora necessite anestesia geral, o procedimento é realizado por uma incisão de 2 a 3 centímetros na região inguinal, que permite o reposicionamento correto e definitivo do testículo no escroto na grande maioria dos casos, bem como a correção das hérnias associadas. No caso dos testículos impalpáveis, não havendo nenhum exame laboratorial ou de imagem (radiografia, tomografia ou ressonância magnética) que identifique com certeza o testículo dentro da cavidade abdominal, a exploração é obrigatoriamente cirúrgica. Recomenda-se, via de regra, a laparoscopia, que caracteriza com segurança a ausência ou presença do testículo. Nesse último caso, a orquipexia com técnica laparoscópica também pode ser realizada com sucesso no mesmo ato. Tanto na cirurgia aberta como na laparoscópica, a alta hospitalar é dada geralmente em 24 horas.
Após o tratamento, o testículo fica inicialmente inchado devido ao trauma cirúrgico, readquirindo tamanho normal pouco tempo depois, e a seguir desenvolvendo-se normalmente com a idade. Em alguns casos com atrofia testicular já presente antes da cirurgia, a diferença de tamanho pode perpetuar-se, mesmo estando o testículo bem posicionado no escroto. A produção futura de espermatozoides depende da normalidade do tecido testicular, sendo que nos casos unilaterais quase sempre é normal, enquanto nos casos bilaterais, a possibilidade de infertilidade é maior.
É recomendável que os pais (e também as crianças maiores) examinem regularmente os testículos tratados, observando eventuais modificações no tamanho e na consistência dos mesmos.