O Centro de Oncologia HSL: 25 Anos

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Em 2002, o Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês foi oficialmente inaugurado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, na presença do ministro da Saúde, Barjas Negri, do ministro da Educação, Paulo Renato, e do governador do Estado, Geraldo Alckmin. No entanto, a história começou muito antes! Em 1979, sob a liderança do Prof. Daher Cutait, um grupo de pessoas interessadas em discutir o que viria a ser o embrião do futuro Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês reuniu-se: Nildo Masini, um empresário motivado pelo tema; João Luiz Fernandes da Silva, um radioterapeuta que já despontava como expoente da especialidade; Samuel Kopersztych, um reumatologista com grande interesse em oncologia; e eu, então recém-egresso da residência de Cirurgia do Hospital das Clínicas.

Naquela época, já tínhamos a percepção de que a grande maioria dos pacientes com câncer era atendida em hospitais gerais e, portanto, seria importante criar uma nova logística no hospital que facilitasse o atendimento desses pacientes. Timidamente, e porque não admitir, de maneira um tanto amadora, criamos um pequeno espaço no hospital que serviria de base para organizar uma estrutura institucional voltada para os pacientes com câncer, à qual ousamos dar o nome de Centro de Oncologia. Daquela experiência, restou a percepção de que a proposta era boa e que deveríamos ser perseverantes na busca por um modelo adequado para o Hospital Sírio-Libanês.

Assim, nos anos de 1980 e 1981, enquanto atuava como fellow em instituições de câncer nos Estados Unidos, busquei compreender o conceito e o funcionamento dos centros de câncer que estavam sendo criados em hospitais de ponta daquele país. Isso me permitiu desenvolver uma visão considerável dos conceitos que orientaram a implementação desses centros. Em 1988, juntamente com o Dr. Carlos Del Nero, na época consultor do hospital e que viria a ter uma carreira excepcional como consultor na área da saúde, visitei alguns centros de câncer americanos que poderiam servir de modelo, com o apoio dos saudosos Issa Saad e Oscar Fakhoury. Essa visita resultou em um documento importante que orientaria nosso futuro.

Naquela época, o Hospital Sírio-Libanês ainda estava em uma fase mais limitada de desenvolvimento e carecia de algumas estruturas básicas essenciais para se pensar em um Centro de Oncologia efetivo. No entanto, com um espírito pioneiro, a diretoria do hospital aceitou esse grande desafio de forma positiva e remodelou nossa instituição, criando e aprimorando estruturas próprias e sólidas para serviços de apoio, como Imagens, Patologia, Banco de Sangue, Endoscopia e Laboratório de Análises Clínicas, entre outros. Ao mesmo tempo, começamos a incentivar jovens colegas a realizar sua formação em Oncologia Clínica em centros renomados no exterior. Gradualmente, nos preparamos para estabelecer um centro multidisciplinar, incorporando novos valores aos que já faziam parte da nossa instituição. Antonio Carlos Buzaid liderou essa iniciativa, passando 13 anos nos Estados Unidos e chegando a chefiar o Serviço de Melanoma no prestigioso MD Anderson Hospital de Houston, onde se tornou uma referência mundial. Ele foi seguido por Frederico Costa e Fernando Maluf.

Enquanto isso, trabalhávamos internamente. Cirurgiões, oncologistas clínicos e radioterapeutas foram convidados a opinar sobre a criação de uma estrutura no hospital que favorecesse o atendimento dos pacientes com câncer, algo que teve praticamente uma recepção unânime e calorosa. Na sequência, em 1997, de forma tímida, fiz uma solicitação ao Dr. Zvi Fucks, então chefe da Radioterapia do Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York, para iniciar um programa conjunto de radioterapia. Afinal, essa especialidade atraía poucos jovens médicos e precisava de estímulo. Ele respondeu: "Conheço o seu hospital. Seu pai ajudou um grande amigo meu, radioterapeuta, num momento crucial da vida dele. Ajudarei vocês." E assim, o Dr. Fucks tornou-se um grande aliado na proposta que parecia inatingível: tornar o Hospital Sírio-Libanês um parceiro do MSKKC. O Dr. Thomas Fahey, então vice-presidente para Assuntos Internacionais, veio nos conhecer. Após definirmos como poderia ser iniciada uma colaboração, algo também inédito para o Memorial, tivemos a visita do Dr. Paul Marks, presidente da instituição, e do Dr. Fucks, essencialmente para nos conhecerem e para selar o acordo de parceria, assinado pelos Drs. Marks e Daher, os líderes das duas instituições.

Nos anos seguintes, enquanto o Hospital Sírio-Libanês progredia em sua estrutura, fomos elaborando as bases do futuro Centro de Oncologia por meio de conversas constantes envolvendo os Drs. João Luiz Fernandes da Silva, Antonio Carlos Buzaid e Frederico Costa. Assim, desenvolvemos um projeto que atendia às necessidades do hospital. O Dr. Buzaid retornou ao Brasil para ser nosso Diretor Executivo, enquanto eu assumi o papel de Diretor Geral. De maneira harmônica e integrada, construímos nossa estrutura, inovando ao trazer os oncologistas para atuarem dentro do hospital, em vez de em consultórios separados pela cidade. Compreendíamos que cada um dos oncologistas clínicos e radioterapeutas deveria se dedicar exclusivamente à nossa instituição, sendo facultada a alguns deles a possibilidade de manter suas atividades universitárias. Serviços clínicos de apoio, como Fisioterapia, Fonoaudiologia, Odontologia, Nutrição e Psicologia, foram integrados ao projeto multidisciplinar.

Criamos uma estrutura dinâmica que permitia aos pacientes realizar seus exames, cujos resultados eram liberados em poucas horas, sempre que possível. Logo em seguida, eles eram atendidos pelos diversos profissionais de saúde. Vale a pena destacar que o Hospital Sírio-Libanês, desde seu início, foi um hospital com grande foco em cirurgia, com expoentes de várias especialidades, muitos deles ligados à vida universitária. Assim, a integração dos cirurgiões com a nova proposta foi fácil e rápida, mesmo que eles não atendessem os pacientes dentro do hospital.

Em 1998, o Centro começou a tomar forma real, com a inclusão gradual de colegas que já atuavam no hospital e outros recém-treinados no exterior. Reuniões multidisciplinares semanais, organizadas por área de atuação, foram iniciadas, onde os membros discutiam casos clínicos. Essas reuniões, que continuam até hoje, sempre foram uma fonte de aprendizado para todos os participantes e, algo ainda mais relevante, muitos especialistas passaram a basear suas decisões nas propostas do grupo.

Em 1999, lançamos o primeiro programa de Telemedicina do país, inaugurado pelo governador Mario Covas. Sua primeira atividade foi realizar teleconferências com o Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York, promovendo discussões de casos e integrando equipes de ambas as instituições. Continuando essa trajetória, Buzaid e eu começamos uma série de publicações de livros sobre temas específicos, sendo o destaque o "Manual de Oncologia Clínica", reeditado anualmente, que compilava as melhores práticas. Esse manual, posteriormente publicado também em espanhol e acessado por oncologistas do país e da América Latina, tornou-se um importante veículo de divulgação do nosso Centro. Embora o manual continue sendo publicado, agora sob a coordenação do Dr. Buzaid, ele não está mais vinculado à nossa instituição. Ao longo desses anos, foram publicados ou apresentados mais de 200 trabalhos em revistas e congressos nacionais e internacionais pelos médicos do Centro de Oncologia. Além disso, muitos médicos do Centro têm participado de ensaios clínicos multicêntricos internacionais.

Por injunções administrativas, deixei de ser o Diretor Geral do Centro de Oncologia alguns anos após iniciar-se o funcionamento do Centro de Oncologia. Com emoção, recordo-me de uma reunião que tive com todos os oncologistas e radioterapeutas que faziam parte do Centro, onde vários deles mostraram-se dispostos inclusive a deixar o hospital, caso eu resolvesse montar um novo projeto em outro local. Minha mensagem a todos foi de que não só continuassem suas atividades no Hospital Sírio-Libanês, mas que as intensificassem, pois dessa forma eles estariam me homenageando. Para mim, o Centro de Oncologia foi como um filho, que nasceu na casa onde cresci, e jamais poderia aceitar seu enfraquecimento. As funções de Diretor Geral e Executivo ficaram, então, sob a responsabilidade do Dr. Buzaid.

Com o correr dos anos, nosso Centro só cresceu, ampliando o número de seus profissionais, muitos deles oriundos de nossos próprios programas de residência médica, sendo que a qualidade do que oferecíamos aos nossos pacientes só aumentava. Passamos a ter também atividades de ensino, com cursos e simpósios muito concorridos, e de pesquisa, com vários trabalhos publicados em revistas médicas internacionais de grande prestígio. Gradativamente, fomos ganhando cada vez mais credibilidade como um centro de excelência, e passamos a ter pacientes oriundos não só de todo o país, mas também de vários países da América Latina.

Em 2011, por decisão administrativa, o Dr. Paulo Hoff substituiu o Dr. Buzaid na direção do Centro. Egresso do MD Anderson, com grande interesse em ensaios clínicos, conduziu o Centro de Oncologia até 2017, quando saiu para uma nova atividade em outra instituição. Durante seu período na coordenação do Centro de Oncologia, ampliou-se e solidificou-se a proposta de atuação por áreas dos oncologistas clínicos e dos radioterapeutas, algo planejado desde o início do funcionamento do centro. Foram também iniciadas as atividades da Oncologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, que vem crescendo de forma exponencial, inicialmente sob a coordenação do Dr. Gustavo Fernandes e, atualmente, do Dr. Rafael Gadia. As atividades científicas ampliaram-se, até mesmo por conta da ligação de vários colegas com o ICESP. Nosso atual diretor é o Dr. Artur Katz, com respeitada carreira como oncologista clínico, inicialmente no Hospital Albert Einstein e, desde 2007, como membro de nosso centro, reconhecido por sua sólida experiência em tumores de pulmão e de mama. Uma grade conquista: o nosso programa de residência em Oncologia Clínica foi reconhecido em 2022 como um dos cinco melhores do mundo no ranking anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Procurei neste curto texto deixar registradas passagens que me parecem expressivas de nossa história. Entendo que o Centro de Oncologia, que se tornou um carro-chefe do Hospital Sírio-Libanês, só pôde ser concretizado graças à participação e dedicação de muitos. Em poucos anos, tornou-se referência nacional, ajudando a elevar ainda mais o conceito de qualidade e humanismo que foram implantados pelo Dr. Daher Cutait e por D. Violeta Jafet desde o início das atividades do Hospital Sírio-Libanês.

Reflexão final
O sonho era não apenas criar um Centro de Oncologia no Hospital Sírio-Libanês, era maior! Era de se criar um Centro que estivesse à altura dos melhores do mundo, que se envolvesse cada vez mais com atividades de ensino e pesquisa, que são o grande incentivo para se aprimorar a qualidade do atendimento médico. Porém, mais ainda, havia a intenção explícita de que, com a divulgação de nossa bem-sucedida experiência, fôssemos fonte de inspiração para outras instituições, públicas e privadas, criarem seus próprios centros, baseadas em nosso modelo. Hoje, vendo vários centros sendo implantados pelo país afora, sinto-me recompensado por todo o esforço e tempo dispendidos nessa proposta. Minha leitura não é de que temos competidores, mas sim parceiros para oferecer ao Brasil tratamento mais digno e de qualidade aos portadores de câncer.