Câncer de Pulmão

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O câncer de pulmão é um grave problema de saúde pública, com alta incidência, mortalidade e fatores de risco conhecidos, já que a maioria destes tumores acomete fumantes. A grande novidade é que a oncologia torácica se desenvolveu acima das expectativas nos últimos anos, e a queda de mortalidade por câncer em geral se deve, principalmente, à queda da mortalidade por câncer do pulmão. É certo, portanto, que tivemos extraordinários avanços na compreensão e nos cuidados oferecidos aos que sofrem dessa doença.

Já é sabido há muito tempo que evitar o fumo é a melhor forma de prevenção. As medidas de controle reduziram significativamente o número de fumantes e fizeram do Brasil um exemplo no controle do tabagismo. No entanto, houve uma transferência para outros hábitos e, hoje, poluição e os dispositivos eletrônicos para fumar são os novos vilões. Os cigarros eletrônicos vêm sendo utilizados de maneira crescente por jovens e são responsáveis pelo aumento do risco de desenvolvimento de doenças pulmonares, e, ao contrário do que se supunha, podem ser uma ponte para o uso do cigarro convencional.

Infelizmente, apesar dos avanços no diagnóstico e na prevenção do câncer do pulmão, ainda estamos atrasados no Brasil. Muitos diagnósticos são feitos nas fases avançadas, pois os sintomas só se manifestam em fases mais tardias. Para mudar este perfil, estudos mostraram o benefício do rastreamento na população de risco, em indivíduos sem sintomas. Neste grupo de risco estão as pessoas entre 55 e 80 anos, que fumam ou pararam de fumar há menos de 15 anos. O rastreamento do câncer de pulmão busca encontrar a doença antes da manifestação de sintomas. Sem o rastreamento, um tumor seria identificado por seus sintomas, diagnosticado somente em estágio avançado, mas dentro do programa de rastreamento poderia ser detectado na fase assintomática, em estádio mais precoce, com maior possibilidade de cura.

O aprimoramento das técnicas de imagem, dos procedimentos endoscópicos, da radiologia intervencionista e da medicina nuclear foram revolucionários, e a crescente necessidade de obter um diagnóstico preciso, que não é dado exclusivamente pela morfologia, exigiu que a patologia se redesenhasse, pois se viu inundada por uma enxurrada de novos testes moleculares cujo resultado tem forte impacto no tratamento, que passou a ser cada vez mais individualizado.

Depois de identificada a doença, inicia-se a jornada do paciente com câncer de pulmão junto à equipe multidisciplinar que reúne Pneumologia, Cirurgia, Radioterapia, Oncologia Clínica e Reabilitação. A integração dos especialistas é fundamental para entregar o melhor tratamento, pois isto implica em decidir quem é candidato para cirurgia, quem deve ser submetido à quimioterapia, imunoterapia, radioterapia ou qual a combinação de todos estes tratamentos seria a mais adequada para cada doente.

O papel da cirurgia se aprimorou nos extremos da doença. Em linhas gerais, pacientes com doença localizada devem ser avaliados para cirurgia. O desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia vídeo-assistida e a robótica reduziram as complicações e o tempo de internação. Também se abriu um campo para intervir em pacientes com doença avançada que tiveram resultados favoráveis com a quimioterapia e que, com seus tumores reduzidos, voltam a ter possibilidade de se beneficiar da cirurgia. No campo da radioterapia, as técnicas de radioterapia de intensidade modulada (IMRT) mostraram bons resultados no tratamento de pacientes com tumores de pulmão localizados considerados inoperáveis, sem condições clínicas para operações de grande porte, e reduziu os efeitos colaterais nos casos mais avançados.

Há uma década, classificávamos o câncer de pulmão de forma simplista, em dois grandes grupos conforme seus tipos de célula: carcinoma pulmonar de pequenas células e o carcinoma pulmonar não-pequenas células; mas hoje isto não é mais adequado. Os estudos epidemiológicos também apontaram aumento na incidência de tumores de pulmão em pacientes pouco ou não-tabagistas. Se não é o fumo, qual seria o outo fator de risco? Entender este processo levou à descoberta de outros fatores envolvidos no desenvolvimento do câncer. A manutenção da capacidade proliferativa das células provocada por alterações nas vias de sinalização intracelular é a principal força-motriz dos tumores destes pacientes sem história de tabagismo. Alterações genéticas recorrentes foram identificadas e, contra muitas destas, já se dispõe de uma droga que vai bloquear essa alteração diretamente dentro da célula. Esta é a simplificação do conceito de terapia alvo.

A resposta imune contra o tumor é outro pilar no desenvolvimento do câncer e muda paradigmas do tratamento da doença avançada após a terapia alvo – a imunoterapia. O uso dos bloqueadores de co-receptores imunes promove um estímulo para que os linfócitos T do paciente reconheçam e exerçam sua função antitumoral novamente. Na vanguarda do tratamento é fundamental conhecer o perfil das alterações genéticas de cada tumor obtido a partir de um painel de sequenciamento molecular, abrindo a possibilidade de terapia alvo além da imunoterapia, e a quimioterapia, que se mantém no arsenal terapêutico.

A aplicação das terapias combinadas no cenário da doença inicial, como tratamento neoadjuvante ou adjuvante, já mostrou resultados promissores. Diante de tantas novidades, vale repetir e ressaltar o papel da multidisciplinaridade no cuidado do paciente com câncer de pulmão. Nunca antes na história da oncologia, a consolidação do cuidado multidisciplinar fez tanta diferença.

É nosso compromisso garantir que todos os pacientes possam ter a experiência completa das mais modernas linhas de tratamento.