Câncer colorretal: prevenir e não remediar

colorretal-prevenir.png

A incidência do câncer colorretal vem aumentando de maneira significativa em quase todo o mundo, com 2 milhões de casos novos diagnosticados a cada ano.

No Brasil, esse tumor só é suplantado em número de casos novos anuais pelo câncer de mama em mulheres e pelo de próstata em homens. A boa notícia é que este é um câncer que pode não apenas ser prevenido, mas que também apresenta altos índices de cura quando o diagnóstico for precoce. Por isso, em várias partes do mundo, promovem-se ao longo do mês de março (conhecido como março azul) campanhas de esclarecimento e, quando possível, incrementa-se a oferta de exames de prevenção.

O mês azul passou quase em branco no Brasil, algo compreensível em decorrência da gravidade da pandemia de Covid-19 que nos devasta e que vem demandando quase todas as atenções do sistema de saúde. De qualquer maneira, vale a pena reforçar a importância da prevenção desse câncer, cujo impacto passa pela identificação dos grupos de risco, da conscientização da população quanto a seus riscos individuais e do acesso à colonoscopia dita de rastreamento – que é o exame por excelência em programas de prevenção de câncer colorretal, embora alguns deles incluam a pesquisa periódica de sangue oculto nas fezes.

Existem três grupos de risco relacionados ao câncer colorretal, os quais requerem propostas distintas de prevenção.

No de maior risco, encontram-se indivíduos e famílias com alterações genéticas que podem ser transmitidas de geração a geração, com especial ênfase para o chamado câncer colorretal hereditário. Para estes, as colonoscopias iniciam-se aos 25-30 anos de idade e devem ser repetidas a cada dois anos. Nos casos de poliposes, também de transmissão hereditária, as colonoscopias iniciam-se ao redor dos 12 anos de idade, sendo repetidas periodicamente ao longo de três décadas, na expectativa de se diagnosticar ou afastar a doença. Finalmente, neste grupo encaixam-se os portadores de doenças inflamatórias intestinais (retocolite ulcerativa e moléstia de Crohn), com periodicidade de colonoscopias definida pelas características clínicas e endoscópicas dessas doenças, assim como pacientes submetidos a uma pouco frequente cirurgia onde os ureteres são implantados no cólon.

Já o grupo de médio risco é de longe o mais importante, sendo definido por pessoas com mais de 45 anos de idade e sem história pessoal ou familiar de câncer colorretal, e que responde por cerca de 90% de todos os casos diagnosticados. Para os indivíduos deste grupo, aconselha-se a colonoscopia a cada dez anos ou, então, com intervalos menores no caso de se encontrar pólipos adenomatosos, que são precursores do câncer colorretal e que podem ser ressecados durante a própria colonoscopia.

No grupo de baixo risco, por sua vez, encontram-se as pessoas com menos de 45 anos de idade, sem os fatores de risco acima descritos e que não necessitam de colonoscopias de rastreamento.

Outro aspecto importante na prevenção do câncer colorretal é o relacionado com hábitos alimentares e estilo de vida, algo para o qual se deve atentar desde a infância. Embora existam controvérsias, sabe-se que a dieta rica em fibras vegetais e pobre em gorduras animais tem efeito protetor, o mesmo acontecendo com a prática de exercícios físicos e o uso de aspirina. Já a obesidade parece favorecer o desenvolvimento desse tumor.

Em resumo, é importante que procuremos estar atentos aos nossos riscos individuais de desenvolver câncer colorretal, bem como estimulados a participar de programas de prevenção e diagnóstico precoce.

Nesse sentido, a orientação de seu médico pode ser fundamental. Adicionalmente, nunca é demais reforçar que é uma responsabilidade dos sistemas de saúde, tanto público quanto privado, favorecer o acesso às colonoscopias, quando necessárias. A vida agradece!

*Artigo originalmente publicado na Folha de S.Paulo em 26/3/2021

Oncologia