Hérnia de disco cervical pode ser tratada, em 90% dos casos, apenas com medicamentos

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Para efeito de estudos, a coluna vertebral é dividida em três segmentos: cervical, lombar e dorsal. A coluna cervical é a parte da coluna localizada no pescoço, e tem a função de sustentar nosso crânio e proporcionar todos os movimentos que realizamos com a cabeça.

Apesar da divisão em segmentos, a estrutura da coluna é muito semelhante ao longo de toda sua extensão. Os corpos vertebrais (cilindros ósseos) são separados por discos fibrosos, de conteúdo gelatinoso, com função de amortecer os impactos sobre as vértebras.

O deslocamento da substância gelatinosa para fora do disco fibroso dá origem a uma hérnia de disco. Quando isso acontece na região do pescoço, dizemos que é uma hérnia de disco cervical. As hérnias são mais comuns nas colunas lombar e cervical, devido à maior amplitude de movimentos desses dois segmentos.

O quadro clínico mais comum é de dor, que pode ser intensa, com origem na parte de trás do pescoço e que se estende pelos braços, podendo chegar até as mãos.

O dr. Mario Augusto Taricco, neurocirurgião do Hospital Sírio-Libanês, explica que a hérnia de disco cervical pode atingir tanto um nervo quanto a medula espinhal, que é a principal via de comunicação entre o cérebro e o resto do organismo.

Pessoas com hérnia de disco cervical costumam apresentar dores nos braços, a chamada cervicobraquialgia. Essa dor parte da coluna cervical e envolve também o pescoço, os ombros e a parte superior das costas. "A dor ocorre quando há compressão do nervo, deixando-o mais sensível aos estímulos dolorosos", explica.

Muitas vezes, a dor causada pela hérnia pode ser confundida com um problema no ombro, como uma tendinite. O que distingue um caso do outro é que a dor causada pela hérnia de disco costuma melhorar quando o paciente apoia o braço sobre a cabeça; já um problema no ombro impossibilita esse movimento porque ele causa dor intensa. Quando a hérnia comprime a medula espinhal (mielopatia), pode haver um comprometimento neurológico mais complexo, com déficit motor e de sensibilidade, dificultando movimentos finos com as mãos e a deambulação. Por comprimir a medula, é o tipo de hérnia mais grave, que pode levar à tetraplegia, quando há perda dos movimentos das pernas, braços e tronco. O exame mais indicado para fazer o diagnóstico e localizar a lesão é a ressonância magnética. A ressonância mostra com mais detalhes e assertividade se a dor é originária de uma hérnia ou tem outras causas, como um possível tumor ou infecção.

A hérnia de disco costuma ocorrer, principalmente, em indivíduos com predisposição genética. Pode surgir após um esforço físico ou como consequência de um esforço brusco. Não existem medidas que possam prevenir a doença, pois ela não está relacionada com o sedentarismo nem mesmo com a idade - pode acometer pessoas na faixa etária dos 25 aos 60 anos de idade.

Tratamento

Cerca de 90% das hérnias de disco cervicais podem melhorar com o tratamento conservador, com o uso de analgésicos, anti-inflamatórios e repouso, sem necessidade de cirurgia. A dor costuma passar dentro de três a quatro semanas. O tratamento com medicamentos é o mais indicado porque é grande a probabilidade de o segmento do disco deslocado diminuir de tamanho espontaneamente.

Segundo dr. Taricco, a cirurgia deve ser realizada apenas quando há compressão medular com déficit neurológico, quando o tratamento à base de medicamentos não apresentou resultados, ou, ainda, nos casos em que a pessoa teve uma primeira crise, foi medicada, e depois de alguns meses ou um ano teve outra crise.

O procedimento pode ser realizado de duas maneiras, pela parte da frente ou pela parte de trás do pescoço, dependendo da localização da lesão. Quando há compressão medular, obrigatoriamente, ele é feito pela frente, por ser mais seguro. A cirurgia exige anestesia geral e tem uma duração média de uma hora e meia. O paciente permanece de um a dois dias internado.

Dr. Taricco explica que, quando a cirurgia é realizada pela parte da frente do pescoço, é necessário retirar o disco cervical, porque esta é a única maneira de chegar até a hérnia. Se o procedimento for feito por trás, retira-se apenas o segmento herniado.

"Quando retiramos o disco, temos duas possibilidades: colocar um disco artificial ou uma prótese. Os dois têm a função de preservar a altura do disco que foi retirado e assim manter a curvatura da coluna cervical", explica o especialista. "O disco é indicado para pacientes com menos de 60 anos de idade que não apresentem instabilidade na coluna cervical e seus benefícios ainda estão sendo avaliados em relação à prótese", esclarece.

O mais comum, atualmente, é o uso da prótese, que pode ser de peek (do inglês polyether ether ketone; em português, polieteretercetona), de titânio ou carbono. A preferência é pela utilização da prótese de peek, pois o material não interfere no exame de ressonância magnética. O médico também explica que a prótese é mais indicada do que o disco artificial, pois ela não corre o risco de se movimentar. "O disco, se não for bem colocado, pode se mover, ou até mesmo sair do lugar", esclarece.

Sessões de fisioterapia são indicadas apenas para os casos em que houver comprometimento neurológico. Os movimentos, a falta de força ou de sensibilidade geralmente são recuperados após a cirurgia.

Pessoas que já tiveram a doença devem evitar esportes de contato físico ou atividades físicas de alto impacto, como andar a cavalo. Exercícios aeróbicos, como correr ou andar de bicicleta, podem ser realizados normalmente.

O Hospital Sírio-Libanês possui um Centro Cirúrgico com as mais avançadas tecnologias para realizar cirurgias de hérnias de disco cervicais de maneira segura e eficaz. Segundo o dr. Taricco, uma das novidades que o hospital deverá oferecer em breve aos pacientes é a cirurgia endoscópica, procedimento minimamente invasivo que reduz os riscos de uma cirurgia aberta. "Estamos avaliando a eficácia e a segurança desse tipo de cirurgia e para quais casos ela pode ser indicada", afirma.