Tomados em excesso, analgésicos e anti-inflamatórios podem trazer prejuízo à saúde

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Os medicamentos analgésicos e os anti-inflamatórios estão entre os mais utilizados no Brasil. Como não exigem receita médica, eles fazem parte de nosso dia a dia para enfrentar dores de cabeça, nas costas e musculares; ou inflamações, como as de garganta. Mas qual o risco que corremos ao tomarmos esses medicamentos constantemente?

A resposta para essa pergunta vai depender muito mais da quantidade do que da frequência com que ingerimos esses medicamentos, explica o gastroenterologista no Hospital Sírio-Libanês e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o dr. Mario Kondo.

No caso dos analgésicos, o paracetamol, por exemplo, é seguro quando seu consumo não ultrapassa 3 g por dia. No entanto, cada dose leva uma quantidade do produto que varia de 0,5 a 0,75 g para adultos ou crianças com mais de 12 anos. Ou seja, ingerindo mais de quatro doses de 0,75 g de paracetamol em um único dia já podemos começar a colocar em risco o fígado. Pessoas com desnutrição extrema ou alcoólatras tendem a ter uma tolerabilidade ainda menor.

“O problema é que a pessoa quando está com dor acaba muitas vezes ignorando a quantidade e vai consumindo uma dose atrás da outra”, comenta o dr. Kondo.

Intercalar diferentes tipos de analgésicos para reduzir os efeitos colaterais também não é indicado, explica o médico. Embora isso possa diminuir a dosagem de cada fármaco, as pessoas ficariam expostas a uma quantidade maior de medicamentos e, consequentemente, a seus danos para o organismo.

A dipirona, outro analgésico bem popular, costuma ser mais segura, mas quando ingerida em quantidades superiores a 4 g por dia pode causar ardência, marcas e inchaço na pele.

O anti-inflamatório ibuprofeno, que também possui atividade analgésica e antitérmica, não tem efeito colateral previsível. Ou seja, fica difícil estimar as dosagens máximas seguras.

Já o ácido acetilsalicílico (AAS) tem efeito analgésico em doses baixas, mas quando usado em doses altas passa a ser anti-inflamatório e, assim, pode provocar malefícios ao rim, como os outros medicamentos dessa classe terapêutica.

No geral, o uso abusivo de anti-inflamatórios pode estar associado a problemas como gastrite, úlceras, insuficiência renal e hepatite medicamentosa.

A dosagem máxima segura para o consumo de anti-inflamatórios vai depender do medicamento e da sensibilidade individual para essa substância. Em algumas pessoas, um único comprimido de anti-inflamatório já pode provocar efeitos gástricos (gastrite com risco de sangramento), mas naquelas que não forem hipersensíveis, o medicamento pode ser tomado com frequência, respeitando sempre a dosagem máxima recomendada.

Diante de qualquer sintoma adverso relacionado à ingestão de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, um médico deverá ser consultado. O uso complementar de medicamentos que fazem a proteção gástrica sem recomendação médica também é desaconselhado.

Depois das infecções virais, como as hepatites B e C, o consumo abusivo de medicamentos é o maior responsável pelas inflamações de fígado no Brasil. O Hospital Sírio-Libanês recebe, pelo menos, um paciente por ano na iminência de perder o fígado em decorrência do uso excessivo de medicamentos, chás e produtos fitoterápicos.

Consumo no Brasil

  • Aproximadamente 0,5% da população brasileira usa analgésicos de maneira indiscriminada. Fonte: Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) — 2011.
  • Em 2012, foram vendidos cerca de 2,5 milhões de caixas de medicamentos anti-inflamatórios no Brasil. Aumento de 25% em relação a 2010. Fonte: Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma).