O Sistema Respiratório Pós-Covid

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A infecção pelo SarsCov2 representa uma agressão ao organismo como um todo. A porta de entrada do vírus é o sistema respiratório, o vírus é inalado, entra pelo sistema respiratório e causa uma destruição das células de revestimento dos brônquios e dos alvéolos (epitélio), deixando as vias aéreas e a parede dos alvéolos como se estivessem em carne viva, além disso destrói também as células de revestimento dos vasos sanguíneos (endotélio) afetando a circulação e fazendo com que a coagulação seja ativada na circulação pulmonar o que leva à formação de microtrombos que obstruem os pequenos vasos pulmonares e impedem a passagem de oxigênio do alvéolo pra circulação. Esse estado de hipercoagulação toma conta de todo o organismo e pode ocorrer trombose em outros órgãos também.

Apenas 10 a 15% dos pacientes evoluem para esse estado de hipercoagulação. Estes são os pacientes mais graves que precisam de oxigênio e às vezes de ventilação mecânica. Ainda não está claro quem evoluiria para esse quadro, sabemos até o momento que pacientes obesos e diabéticos podem ter maior chance, mas observamos tal quadro em paciente sem estas características também, inclusive pacientes jovens e sem doenças prévias. Portanto, atualmente já se sabe que o SARS-Cov-2 causa uma disfunção endotelial e epitelial, que acaba levando à ativação da coagulação, causando fenômenos trombóticos em todo o organismo. Da mesma forma que acontece na sepse grave, a deposição generalizada de coágulos intravasculares compromete o fornecimento adequado de sangue, contribuindo para a falência dos órgãos.

É importante que se enfatize que esta evolução para coagulopatia trombótica acomete a minoria dos pacientes, cerca de 10 a 15 % dos pacientes infectados pelo SARS COV 2. A grande maioria dos pacientes infectados, 85 a 90% deles, evoluem com um quadro leve, sem queda na oxigenação e que melhora sem medicação alguma, daí se origina a alegação de sucesso de vários tratamentos milagrosos e sem comprovação. Nos 10 a 15% de pacientes acometidos pela COVID grave, os diversos tecidos do organismo, entre eles o pulmão, sofrem com a falta de irrigação sanguínea e podem evoluir com trombose, necrose e posteriormente fibrose, apresentando sequelas a longo prazo.

No último ano muito se aprendeu sobre o manejo da doença e temos muito ainda a aprender. Muitas das sequelas dependem de um conjunto de fatores que incluem: idade, doenças pré-existentes (diabetes, doenças cardiovasculares, imunodeficiências, neoplasias e obesidade, principalmente). Neste contexto vale também ressaltar o uso errôneo de corticoides no início da doença e de algumas drogas tóxicas e sem comprovação científica no manejo ambulatorial e a demora em procurar o serviço de saúde quando da instalação da queda de oxigênio. Tais situações podem favorecer a evolução para quadros mais graves com perda de função dos órgãos acometidos e sequelas a médio e longo prazos.

O que se preconiza atualmente é:

  • Manter-se bem hidratado em todas as fases da doença
  • Monitorar a oxigenação sanguínea através de um oxímetro pelo menos 2 a 3x ao dia e ir ao hospital se a oxigenação baixar para 93% ou menos, ou se baixar 2 a 3 pontos de sua oxigenação habitual.
  • Procurar atendimento médico se a febre se prolongar ou surgir além do sexto dia do início dos sintomas
  • Não tomar corticoide antes do sétimo dia de doença, a não ser que você precise de oxigênio antes desse período ou já tome corticoide por outras razões. O uso de corticoide precoce nessa doença pode causar uma piora do quadro clínico e facilitar a proliferação e invasão do organismo pelo vírus.

A doença é grave e se dissemina rápido, mantendo-se atento às observações acima e evitando aglomerações, usando máscara e higienizando as mãos com frequência, conseguiremos reduzir as mortes e frear esta pandemia. Importante ainda é se vacinar assim que a vacina estiver disponível para sua faixa etária e ocupação.

Se você teve COVID e apresenta sintomas como falta de ar, tosse, febre e chiado no peito, procure seu médico para orientações quanto à reabilitação pulmonar e diagnóstico de sequelas. Não se automedique e não confie em receitas das redes sociais. Fique atento!