Distúrbios da marcha na paralisia cerebral
Um dos pontos que mais chama a atenção nos pacientes com paralisia cerebral (PC) é a variedade de apresentações clínicas. Há os que conseguem andar grandes distâncias sem necessitar de nenhum tipo de apoio; os que utilizam algum meio auxiliar de marcha como andador ou muletas, e aqueles que são totalmente dependentes de cadeira de rodas com pouca ou nenhuma capacidade de sustentação do tronco e da cabeça.
As principais causas das alterações ortopédicas observadas na marcha dos pacientes com PC podem ser enquadradas em três situações:
- Desdobramentos diretos do comprometimento neurológico (aumento do tônus e fraqueza muscular, incoordenação e movimentos involuntários);
- Alterações ortopédicas (encurtamento muscular e alterações ósseas);
- Mecanismos compensatórios que o indivíduo utiliza para minimizar os efeitos previamente descritos.
Mas nem sempre é fácil identificar e diferenciar cada um desses problemas, visto que as disfunções podem ocorrer em vários níveis diferentes e em ambos os membros inferiores, tornando difícil a avaliação adequada até mesmo para os profissionais mais experientes. Por conta disso, contamos hoje com o exame tridimensional de marcha que consiste na avaliação instrumentada do caminhar do paciente, utilizando câmeras de infravermelho, softwares e outros dispositivos que dão informações adicionais, auxiliando, entre outras coisas, em sugestões cirúrgicas mais precisas, quando obviamente estas estão indicadas.
Para a espasticidade (aumento do tônus muscular) pode ser ponderado procedimentos neurocirúrgicos, medicações e bloqueios com toxina botulínica e fenol. Para as alterações ortopédicas propriamente ditas, muitas vezes podem ser consideradas cirurgias para alongamentos e transferências musculares e tendíneas, além das osteotomias que são procedimentos cirúrgicos ósseos para correção da deformidade ou para melhora do padrão da marcha do indivíduo.
Não se pode esquecer que, além das alterações ortopédicas, existe também o quadro neurológico de base, o que torna ainda mais complexo o tratamento, seja ele clínico e/ou cirúrgico.