Parece infarto, mas não é

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Dores no peito, dormência nas mãos e sensação de morte iminente são sintomas típicos do infarto agudo do miocárdio. No entanto, esses sinais nem sempre se referem à obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o coração. Eles podem ser indicativos de problemas que estão afetando nossa mente, como as síndromes do pânico e alguns casos da síndrome do coração partido (takotsubo).

Médico psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês, o dr. Antônio Guerra lembra que já foi chamado diversas vezes pela equipe do Pronto Atendimento do Hospital para prestar suporte aos pacientes que acham que estão infartando, mas não estão. “A primeira medida é descartar mesmo a possibilidade de doença cardíaca”, alerta. “Depois disso, iniciamos as abordagens diagnósticas e de tratamento da crise psíquica que a pessoa possa estar sofrendo”, acrescenta.

Síndrome do pânico

Durante um ataque de pânico, a pessoa pode sentir uma sensação súbita de morte eminente, perda de controle mental ou de consciência, além de sinais e sintomas que podem ser interpretados como um infarto. Entre eles:

  • Dores no peito.
  • Palpitação.
  • Dormência nas mãos.
  • Suor excessivo (sudorese).
  • Sensação de falta de ar.

Mais raramente, de forma isolada ou conjuntamente, a pessoa pode apresentar ainda uma diarreia súbita ou tontura giratória (vertigem).

Todos esses sintomas podem surgir após acontecimentos de alto impacto negativo, como crises financeiras; brigas ou mortes na família; abuso sexual na infância; assalto, sequestro e acidentes de trânsito traumáticos.

Síndrome do coração partido

A síndrome do coração partido é menos comum que a síndrome do pânico. Uma explicação causal possível pode ser uma descarga excessiva de adrenalina na corrente sanguínea, o que como consequência pode causar uma disfunção no ventrículo esquerdo do coração.

Nos exames de imagem, nota-se que a imagem cardíaca está modificada, ficando semelhante a um coração partido, ou um takotsubo, que é um tipo de pote de pesca japonês utilizado para capturar polvo. Por isso, essa doença descrita em 1990 também ficou conhecida como síndrome de takotsubo.

Alguns dos principais sinais relacionados a essa síndrome são:

  • Dor no peito.
  • Náuseas e dor no estômago.
  • Dificuldade de respirar.
  • Perda dos sentidos.
  • Arritmias.

Esses sinais e sintomas também podem ocorrer de forma isolada ou conjuntamente, e por volta de 25% dos casos identificados são decorrentes de um evento traumático, como a perda de um parente ou amigo muito próximo.

A síndrome do coração partido afeta principalmente mulheres com mais de 50 anos de idade. Há algumas evidências de que talvez isso esteja relacionado à queda de estrógeno (hormônio feminino que protege os vasos do coração) após a menopausa.

Cuidando da mente e do coração

A relação entre os transtornos psiquiátricos e as doenças cardíacas vai muito além das síndromes do pânico e do coração partido, afirma o dr. Guerra. “Diversos estudos demonstram que o que faz mal ao coração também faz mal ao cérebro, como o diabetes, a hipertensão arterial e o colesterol alto”, explica o médico.

A depressão, por exemplo, já é considerada pelo Ministério da Saúde como um fator de risco para as doenças cardiovasculares.

Sendo assim, as recomendações amplamente divulgadas como formas de prevenção das doenças cardíacas também servem para as doenças psiquiátricas, como seguir dieta balanceada para evitar/tratar a obesidade, fazer atividade física regularmente, não fumar e evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

No caso da síndrome do pânico, observa-se também que várias pessoas que sofrem desse transtorno evitam praticar atividade física, pois interpretam a elevação da frequência cardíaca, o suor excessivo e a falta de ar, normais durante uma atividade física aeróbica, como sinais de um infarto. Com isso, elas acabam se tornando sedentárias e mais vulneráveis às doenças cardiovasculares.

O ideal, segundo o dr. Antônio Guerra, é que o diagnóstico e o tratamento das doenças cardiovasculares e psiquiátricas sejam feitos o mais precocemente possível.

No Hospital Sírio-Libanês, o serviço de Pronto Atendimento conta sempre com médicos cardiologistas de plantão; e equipes de retaguarda, compostas por médicos psiquiatras, que podem ser chamados para auxiliar nos cuidados dos pacientes com transtornos mentais.

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