A dermatite atópica em criança e no adolescente

A dermatite atópica encontra-se entre os quadros de pele mais importantes na criança e no adolescente e não raramente acaba sendo de igual ou maior transtorno também nos adultos. Um ponto interessante é que este tipo de dermatite, quando surgido nos primeiros meses de vida, costuma ser o prenúncio do possível aparecimento de quadros alérgicos em um futuro não muito distante, como a rinite alérgica e a asma, ambas podendo se estender também por toda a vida adulta.

Diante disso, o Núcleo de Especialidades Pediátricas do Hospital Sírio-Libanês decidiu trazer a avaliação de uma de nossas especialistas em Dermatologia, a Dra. Silmara Cestari, sobre o que de fato está por trás da dermatite atópica e o que ainda está por vir. A Dra. Silmara Cestari, coordenadora do Núcleo de Dermatologia Pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, com muito interesse respondeu às minhas perguntas.

Dr. Marcello Pedreira (coordenador do Núcleo de Especialidades Pediátricas do Hospital Sírio-Libanês): Dra. Silmara, muito obrigado por esta oportunidade de conversarmos. Antes de tudo, o que é dermatite, de forma geral? Existem tipos diferentes de dermatites?

Dra. Silmara: As doenças inflamatórias da pele são geralmente chamadas de dermatites. Na verdade, existem diferentes tipos de dermatite e, entre as mais comuns estão a dermatite das fraldas, a dermatite seborreica, a dermatite de contato, a dermatite atópica, entre outras.

Dr. Marcello: Dermatite atópica tem mesmo a ver com alergia?

Dra. Silmara: A dermatite atópica não é uma alergia, mas sim uma forma de hipersensibilidade. A pele do indivíduo atópico é mais sensível e reage de maneira exagerada a substâncias irritantes e alérgenos. Entretanto, quando a dermatite atópica está associada à rinite alérgica e à asma, faz parte de um quadro chamado de tríade atópica ou atopia.

Dr. Marcello: Se alguém da minha família já tem dermatite atópica, a chance de meus filhos terem é maior?

Dra. Silmara: Sim, a dermatite atópica é hereditária e pode ser transmitida ao longo das gerações. Quando um dos pais é afetado, a chance de a criança ter dermatite atópica aumenta em 25%.

Dr. Marcello: Como saber se irritações na pele da criança são ou não dermatite atópica?

Dra. Silmara: Só o médico (pediatra, dermatologista, alergista ou outro especialista) poderá fazer um diagnostico correto de dermatite atópica. Lesões vermelhas e descamativas que coçam muito, localizadas nas dobras dos joelhos e cotovelos, são muito sugestivas de dermatite atópica. Todavia, várias outras formas e localizações podem ocorrer na dermatite atópica. Portanto, sempre que possível, consulte um médico.

Dr. Marcello: A pele da criança com dermatite atópica permanece todo o tempo irritada ou existem períodos em que ela melhora?

Dra. Silmara: A dermatite atópica tem uma evolução em surtos, ou seja, há períodos de melhora intercalados com períodos de aparecimento das lesões e da coceira.

Dr. Marcello: Tem alguma coisa que se possa fazer para evitar esses surtos?

Dra. Silmara: Sim. Hoje sabemos que o indivíduo atópico tem naturalmente uma pele seca por alterações nas células mais superficiais da pele, a chamada de barreira cutânea. Por ser desestruturada na barreira atópica, essa barreira deixa de funcionar bem e permite a penetração de alérgenos e microrganismos. Por outro lado, a hidratação da pele melhora a estrutura da barreira cutânea e previne o aparecimento dos surtos de dermatite. Além disso, fatores desencadeantes devem ser evitados.

Dr. Marcello: Por que algumas crianças têm dermatite atópica e outras não?

Dra. Silmara: Existe o fator genético e hereditário, transmitido pelos pais, que torna essas crianças mais predispostas a desenvolver a dermatite atópica. Os fatores genéticos são os responsáveis pela barreira cutânea ser mais permeável e pela hipersensibilidade aos alérgenos e irritantes. Mas, existem também os fatores ambientais que desencadeiam e/ou agravam as crises, como alterações de temperatura, mudanças no clima, contato com poeira e ácaros, ingestão de certos alimentos e estresse.

Dr. Marcello: Até que idade pode aparecer esse tipo de dermatite?

Dra. Silmara: A dermatite atópica pode ter início em qualquer idade, dos 3 meses de vida até a idade adulta. Contudo, pode-se afirmar que a grande maioria dos casos – cerca de 80% - aparece ainda no primeiro ano de vida ou até os 5 anos de idade. O início da dermatite atópica na adolescência ou na idade adulta é mais raro.

Dr. Marcello: A dermatite atópica tem cura ou durará para sempre?

Dra. Silmara: Casos leves ou moderados de dermatite atópica tendem a desaparecer antes mesmo da adolescência. Já as formas mais graves, principalmente, podem persistir na idade adulta.

Dr. Marcello: Qual o melhor tratamento e quanto tempo deverá durar?

Dra. Silmara: O tratamento da dermatite atópica baseia-se em hidratar a pele, melhorar a inflamação e controlar a coceira. Mesmo fora das crises, o uso de hidratantes deve ser continuado para manter a barreira da pele intacta e prolongar o período entre os surtos. O tratamento tem duração variável, dependendo da intensidade das crises, das características da pele e da exposição aos fatores ambientais. Seu médico é a melhor pessoa para conversar sobre tudo isso com você e sua família.