Uso terapêutico da cannabis na oncologia

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O encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), que acontece em Chicago esta semana, teve pela primeira vez uma mesa de discussão sobre o uso terapêutico da cannabis no tratamento contra o câncer. Apesar de muito se discutir sobre o assunto e, inclusive, o seu uso já estar aprovado em muitas partes do mundo não só para fins terapêuticos, mas também recreativo, a conclusão médica foi de que ainda faltam informações clínicas que possam garantir o benefício e segurança de seu uso na oncologia.

A cannabis tem duas principais substâncias: o tetrahidrocannabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Ambos são substâncias canabinóides. O THC é o principal componente ativo e grande responsável pelos efeitos alucinógenos. Já o canabidiol tem efeitos múltiplos dentro do corpo e encontra-se presente inclusive em alguns tipos de tumor. Ambos atuam num sistema chamado endocanabinóide.

Estudos realizados tanto com THC como CBD mostram resultados divergentes. Há pesquisas que apontam os canabinóides como supressores dos tumores, outros apontam ação anti-inflamatória que bloqueia o sistema de resposta do corpo ao câncer. A principal função do uso do cannabis na conduta terapêutica do paciente oncológico seria para ajudar no manejo da dor, no controle de efeitos colaterais da quimioterapia, como náusea e vômitos, e para ajudar com a ansiedade e depressão.

Pesquisa apresentada durante o encontro médico com especialistas da McGill University, no Canadá, dão conta que não há estudos clínicos que comprovem o real efeito da cannabis no manejo da dor, o que seria o principal uso do produto. “As pesquisas apontam para um possível benefício, principalmente para o controle da ansiedade, cansaço, insônia, náusea e vômito”, explicou o médico Claude Cyr, da Universidade McGill, durante sua apresentação na ASCO.

Outro ponto observado foi a importância do diálogo médico-paciente, fundamental para que ele se sinta confortável com o profissional para informar que está usando a cannabis. Por todas as possíveis interações que estão sendo observadas com relação à cannabis, é fundamental que o médico esteja ciente de seu uso. Pesquisa realizada pela Universidade Thomas Jefferson, nos EUA, com pacientes idosos apontou uma possível interação medicamentosa entre cannabis e medicamentos anticoagulantes. Por isso, o médico precisa estar ciente do que o paciente está tomando e como isso pode afetar o tratamento como um todo.

Enquanto não se amplia o conhecimento clínico sobre o efeito dos canabinóides no tratamento oncológico, recomenda-se evitar o seu uso em pacientes que estão usando imunoterapia, sempre começar com doses baixas do produto e reforçar o diálogo para sanar dúvidas. “Oncologia é uma prática médica que se pauta muito pela evidência clínica. Por isso, mais estudos são necessários para compreender o papel da cannabis no tratamento contra o câncer”, explica o Dr. Artur Katz, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.