Câncer de pele na infância: existe?
Dr Francisco Aparecido Belfort
Especialista em Oncologia Cutânea e Sarcomas
21/02/2022 · 1 min de leitura
Nossa sensação universal é de que crianças são seres inocentes que nunca deveriam passar por sofrimento. No entanto, alguns tipos de câncer sabidamente podem acometer crianças, como leucemias, linfomas e tumores ósseos, entre outros. E o câncer de pele na infância, também existe? Embora raro, infelizmente o câncer de pele também pode acometer as crianças – essa é a razão de nosso bate papo: pela falta de conhecimento de que crianças também podem ter câncer de pele, muitas vezes o diagnóstico é feito tardiamente, dificultando o tratamento.
Na infância, mais comuns em crianças de pele bem clara, as pintas são geralmente benignas. Já o câncer de pele da criança é predominante associado às pintas de cor escura, ainda que também possam ter uma coloração mais clara, as vezes até rósea. Como sinais de alerta, devemos nos ater a alterações em pintas já existentes (crescimento, mudança de cor, ulceração, sangramento) ou ao surgimento de uma nova lesão que aparece e persiste por mais de 1 a 2 meses. Não devemos confundir as pintas com as sardas, frequentes nos descendentes de famílias nórdicas e europeias que migram para um país tropical como o nosso.
Nas crianças, picadas de insetos, carrapatos e processos alérgicos devem ser lembrados entre os diagnósticos diferenciais de lesões cutâneas. No entanto, em lesões persistentes, na eventualidade de existir qualquer dúvida, vale a pena procurar um médico de confiança, mais comumente o pediatra ou dermatologista. Aspectos da história familiar também são importantes, já que algumas vezes pode existir uma predisposição genética, isto é, fatores de risco hereditários que podem aumentar a chance de uma criança desenvolver um câncer de pele.
Muitas crianças nascem com algumas pintas. Nas pintas presentes desde o nascimento, alterações na forma, cor ou tamanho também devem ser valorizadas e servem de sinal de alerta quanto à necessidade de consultar um especialista. No caso da existência de pintas, o diagnóstico de câncer a ser descartado é o melanoma, um tumor maligno muito raro na infância, mas que pode ser agressivo e trazer uma série de consequências se o diagnóstico não for feito precocemente. Havendo suspeita clínica de melanoma, mais comumente uma pinta assimétrica, com bordas irregulares, com mais de uma cor escura e com tendência de crescimento, é importante que haja uma discussão com equipe médica treinada, pois o diagnóstico adequado é fundamental para a conduta correta e curativa. Nesse caso, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior será a chance de cura.
Independente da criança apresentar ou não lesões cutâneas, vale lembrar a importância de medidas preventivas contra o câncer de pele: evitar a exposição solar em horários inapropriados (entre 10 e 16 horas), usar protetores solares e roupas apropriadas, além de ouvir a opinião de um especialista sempre que houver alguma dúvida. Uma avaliação criteriosa pode definir o diagnóstico e tranquilizar a criança e a família. Em uma consulta especializada, a lesão poderá ser melhor estudada através de métodos não invasivos como a dermatoscopia e a microscopia confocal, técnicas que permitem ampliar a visualização das lesões e caracterizá-las de maneira mais precisa.
A critério do especialista, um programa de acompanhamento das lesões através do mapeamento digital poderá permitir uma análise evolutiva segura e auxiliar na decisão sobre a necessidade de remoção ou não de determinada lesão. É importante mencionar que toda lesão removida deve ser encaminhada para exame anatomopatológico, mesmo que não haja suspeita de malignidade.
Concluindo, embora raro, o câncer de pele pode aparecer na infância, porém, mediante diagnóstico precoce e cuidados especializados, a criança felizmente poderá será tratada e curada na enorme maioria das vezes.
Foto 1. Melanoma extensivo superficial no torax de criança de 4 anos. Foto 2. Melanoma Sptizoide no dorso de menina de 10 anos.