Crise epiléptica pode ter várias causas, de hipoglicemia a tumores cerebrais

Ao longo da história, a epilepsia já esteve associada a "possessões demoníacas" e divinas, a doença contagiosa e até mesmo à loucura. Crendices como essas povoam o imaginário popular desde antes de Cristo, na Babilônia, e mesmo hoje há ainda quem acredite nelas.

Cercada de mitos, a epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta cerca de 65 milhões de pessoas ao redor do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, devemos ter perto de 1,9 milhão de pessoas acometidas pela doença. Lamentavelmente, em grande parte desses casos não se consegue um controle adequado das crises, e muitos não chegam a receber tratamento algum, tanto por desconhecimento dos profissionais da área de saúde como por desinformação da população.

Segundo a dra. Eliana Garzon, neurologista no Sírio-Libanês, nem todas as pessoas que têm uma crise podem ser consideradas epilépticas. "Crises epilépticas são sintomas decorrentes de descargas cerebrais anormais. Epilepsia é a condição ou a doença que provoca a ocorrência de crises repetidas", diferencia.

Condições como hipoglicemia ou taxa baixa de açúcar no sangue podem causar uma crise epiléptica. Nesse caso, a normalização do nível de açúcar no sangue pode reverter completamente o quadro.

Outros problemas, como ansiedade ou alterações psiquiátricas, também podem causar desmaios que, clinicamente, são muito parecidos com as crises epilépticas. Entretanto, não há ocorrência de descargas anormais cerebrais e, portanto, não caracteriza uma "crise epiléptica".

Ao contrário do que se imagina, também há diferentes tipos de crises epilépticas. Algumas pessoas apresentam rigidez e abalos musculares em todo o corpo (crise generalizada). Outras têm abalos restritos a uma parte do corpo, como face, braço ou perna (crise focal). Existem ainda as crises em que há perda de consciência e a pessoa se desliga por alguns segundos.

As causas da doença também são variadas. Em geral, acontecem em decorrência de problemas localizados no próprio sistema nervoso, como lesão cerebral provocada por Acidente Vascular Cerebral (AVC) esquêmico ou hemorrágico traumatismo cranioencefálico, malformações do cérebro, paralisia cerebral, tumores cerebrais, infecções do cérebro (meningites, encefalites, parasitoses, etc.), causas degenerativas ou genéticas.

Algumas pessoas também podem ter deficiência de uma determinada substância ou um defeito nas reações químicas do organismo. "Nestes casos, a mudança da dieta, ou a suplementação de algumas substâncias, pode controlar as crises", afirma a neurologista.

Há ainda os que têm um defeito em uma proteína que leva a glicose para o cérebro. "Nesta situação, é como se o cérebro estivesse sem glicose o tempo todo", explica a médica. Segundo ela, uma alteração radical na dieta, mudando a fonte de energia de glicose para a queima das gorduras, pode controlar as crises. "Os casos de anormalidades metabólicas são graves e, felizmente, raros", adverte a dra. Eliana.

O tratamento vai sempre depender da causa. Se há um tumor, a sua retirada, quando possível, pode tratar a epilepsia. O uso de medicamentos específicos, os chamados anticonvulsivantes, também pode ser recomendado. Quando há crises parciais geradas por uma única área cerebral, de difícil controle com os medicamentos, uma cirurgia pode ainda ter ótimos resultados.

"Em geral, 70% dos indivíduos com epilepsia alcançam um excelente controle das crises", ressalta a dra. Eliana. Nos 30% restantes, elas persistem a despeito do tratamento correto.

A epilepsia é comum na infância, em especial no primeiro ano de vida, pois o cérebro é mais imaturo e mais propenso às descargas cerebrais anormais. Pessoas que tiveram alguma lesão no cérebro, como tumores, acidentes vasculares, neurocirurgia prévia e traumatismo craniano, também são mais propensas a ter convulsões ou crises epilépticas.

O corpo clínico do Sírio-Libanês conta com médicos especialistas no diagnóstico e tratamento das epilepsias. Há também um serviço de Videoeletroencefalograma (vídeo-EEG). Trata-se de um exame específico em que há o registro simultâneo das ondas cerebrais e do comportamento do paciente em vídeo, para posterior análise por um médico especialista.

Durante o exame, o paciente permanece alguns dias internado no hospital, para que as manifestações clínicas possam ser acompanhas de perto e, assim, determinado o tipo de crise. O vídeo-EEG permite um diagnóstico preciso e, consequentemente, um tratamento individualizado.

Como socorrer uma pessoa em crise epiléptica?

A neurologista Eliana Garzon ensina passo a passo o que deve ser feito:

  1. Mantenha a calma.
  2. Peça ajuda, quando possível.
  3. Coloque a pessoa em local seguro, de forma que ela não se machuque. Se possível, ponha um travesseiro sob a cabeça e remova os óculos.
  4. Não coloque nada na boca da pessoa, principalmente não coloque as suas mãos e objetos.
  5. Não tente restringir os movimentos.
  6. Desaperte a gravata ou roupas que possam machucar.
  7. Se a crise durar mais de 5 minutos, procure a ajuda de ambulância para levar a pessoa no pronto atendimento mais próximo e o mais rapidamente possível.
  8. Procure por identificação. Verifique, principalmente, se há algum cartão alertando para o fato de que a pessoa apresenta epilepsia.
  9. Quando a crise passar (cessarem os movimentos), coloque a pessoa de lado para que não aspire as secreções e mesmo a saliva.
  10. Se a pessoa não recuperar completamente a consciência após alguns minutos, solicite assistência médica.