Volta às aulas em setembro vira incógnita em São Paulo A data de 8 de setembro, estabelecida como previsão do governo de São Paulo para a volta às aulas presenciais, mas tida como certa por instituições de ensino, tomou-se uma incógnita diante do avanço lento da retomada e da apreensão por parte de pais e professores. O secretário de Educação, Rossieli Soares, disse ontem que está mantido o cronograma, mas reforçou a necessidade de se manter todo o estado por 28 dias no estágio amarelo de reabertura. Hoje, a maioria das regiões paulistas está em fases de maior restrição, saúdebi Data da volta às aulas vira incógnita em SP ante pressão de pais e melhora lenta Governo diz que manterá plano de retorno em 8 de setembro, mas ressalta que há condições a cumprir Escudo plástico separa alunas na volta às aulas em Manaus Escola Meu Caminho no Facebook Laura Mattos são paulo A data de 8 de setembro, colocada como previsão do governo de São Paulo para a volta às aulas presenciais, mas tida como certa por instituições de ensino, virou uma incógnita diante do avanço lento da retomada, da pressão de professores pela manutenção do fechamento das escolas e do medo dos pais. De acordo com o plano de retomada na educação, será preciso que todas as regiões do estado estejam há no mínimo 28 dias na terceira fase da retomada, a amarela. Por enquanto, a minoria se encontra nessa etapa. A maior parte está na segunda fase, a laranja, e há ainda cinco regiões na primeira, a vermelha. Será preciso que até 7 de agosto todas tenham evoluído para a amarela e que nenhuma recue nos 28 dias seguintes. Nesta sexta-feira (17), Doria anunciou que a região de Piracicaba, que estava na laranja, recuou para a vermelha. O plano de retomada prevê que as regiões possam pular etapas para frente e para trás. Ou seja, podem ir da vermelha para a amarela e vice-versa, o que torna mais incerto que as escolas irâo reabrir em 8/9. No dia seguinte ao plano ser anunciado, em junho, o secretário de Educação, Rossieli Soares, disse à Folha que podería haver flexibilização para uma volta regional se todo o estado não evoluísse por igual. Mas falta respaldo da opinião pública, abalada pela demora na queda do número de mortos, ainda na média diária de mil. No fim de junho, o Datafolha apontou que 76% dos pais no Brasil preferiam que as escolas permanecessem fechadas na pandemia. Agravando a situação, nesta semana, um matemático fez uma estimativa de que 17 mil crianças poderíam morrer se as escolas reabrissem, o que se disseminou por grupos de WhatsApp e gerou pânico. Diante disso, o governador Joào Doria convocou Rossieli para a entrevista coletiva desta sexta (17) sobre a pandemia. O secretário afirmou que solicitou informações ao matemático Eduardo Massad, da Fundação Getúlio Vargas, sobre a estimativa de mortes que ele havia feito, e que o estudioso teria se enganado. À Folha, o matemático reafirmou sua estimativa. “Mas é importante enfatizar que isso é apenas uma estimativa que pode nào se concretizar.” Rossieli manteve tom contido na entrevista e evitou soar muito crítico ao matemático, reforçando que a volta só se dará quando houver segurança. Disse que “há muito estudo saindo na área da educação” e que analisa todos. Reafirmou que o governo segue com o plano de reabertura na educação, mas reforçou a necessidade de se manter o estado no amarelo por 28 dias. Mais tarde, a secretaria foi mais enfática em uma nota enviada à imprensa com o título “Governo deSPmantém previsão de retomo das aulas para o dia 8 de setembro”, e o subtítulo “Divulgação de estimativa de mortes apontada por matemático da FGV está equivocada; se aplica no país todo e é dez vezes menor”. A estimativa do matemático da FGV foi levada à entrevista diante do terror gerado nas redes sociais. Apesar de não ter tido força para cancelar ou adiar a reabertura, serviu para jogar mais um banho de água fria na convicção sobre o dia 8 de setembro e, por ora, em uma eventual regionalização na retomada. Também deverá reforçar a pressão de professores da rede pública contra a reabertura. Por outro lado, pode a ajudar o governo a conter a demanda de parte das escolas particulares para que possam voltar às presenciais antes, argumentando que têm mais estrutura para implementar protocolos de segurança e podem falir com a maior inadimplência e menos alunos. O governo de Sào Paulo, apesar da orientação do Conselho Nacional de Educação para que os colégios privados sejam autorizados a voltar antes dos públicos, determinou que a volta será simultânea. Nesse xadrez, as escolas aguardam os números e a opinião pública para avançar na negociação sobre a volta ou mesmo em ações judiciais. Aliadas a hospital, escolas de elite de SP esperam retorno Thiago Amâncio são paulo Colégios de elite de São Paulo têm apostado em inovações tecnológicas, barreiras físicas e consultoria com hospitais famosos para voltar às aulas presenciais no começo de setembro, data sugerida pelo governo de Sáo Paulo, mas que ainda depende de condições sanitárias para ser confirmada. As aulas foram suspensas no fim de março, para tentar conter a pandemia da Covid-19, mas continuaram online. Parte dos pais e professores se manifestaram contrários, mas, na opinião de diretores de colégios da rede particular com quem a Folha conversou, é possível voltar com alguma segurança. Diretor da Abepar (associação de escolas particulares) e também diretor do colégio Mobile, na zona oeste da capital, Daniel Bresser afirma que a escola tem condições de retornar se a área da saúde do governo estadual assim considerar seguro. Para isso, contratou assessoria do hospital Albert Einstein para elaborar um protocolo da retomada e executálo. “Cada escola tem que ter suas particularidades para exigir, sugerir e eventualmente oferecer ainda mais segurança para os alunos e para os colaDoradores”, afirma ele. O Bandeirantes, também na zona sul paulistana, foi outro colégio que contratou um grande hospital, o Sírio Libanês, que vai atuar além da Covid19 e operar o ambulatório da escola. “A situação é séria. A saúde na escola antes era algo secundário. As grandes escolas tinham ambulatório e enfermeiras para atender dor de cabeça, algum machucado na educação física”, diz o presidente do colégio, Mauro Aguiar. “Hoje passou a ser algo mais importante. O setor privado está bem preparado e temos condições de retornar até antes disso [setembro].” Aguiar afirma que, além da doença, um problema a se vencer é o medo. “Fizemos uma pesquisa com alunos e professores, o pessoal está com muito medo. Mas a posição do governo, de voltar com 35% da capacidade e ir aumentando, está correta, para o pessoal ter tempo de absorver as mudanças.” Para Diane Clay Cundiff, diretora do Colégio Santa Maria, na zona sul da capital, as regras para retomada das aulas presenciais devem considerar a estrutura de cada escola. “Nós estamos em uma área de 150 mil m2, sendo 90 m2 de área verde, temos muito espaço e condições para fazer atividadesao arlivre, com máscara e distanciamento. Mas nem todas as escolas têm as mesmas condições”, diz a diretora. Segundo ela, o colégio deve colocar até divisórias de acrílico entre as mesas dos alunos. “Tem escola que a janela nem abre, porque o prédio foi projetado para ter ar condicionado. Deveria haver uma norma que verifica a circulação de ar em cada escola, por exemplo, e que a partir daí cada escola pudesse receber uma proporção de alunos, seja 20%, 49% ou 100%”, completa. O mesmo defende Edimara Lima, diretora da escola Prima, também na zona sul. “As escolas têm pouca autonomia. A gente nào pode, numa cidade com tanta diversidade, tem regras tão genéricas. Depende do contexto de cada lugar. Nem todas as escolas estarão preparadas”, afirma. A Prima tem condições de voltar, diz Edmiara, que ainda analisa quais protocolos para isso deve estabelecer. “Daqui até a abertura, preciso preparar as crianças, que vâo encontrar uma escola diferente da que deixaram. As mais novas vão ter mais dificuldade de absorver essas mudanças, é preciso pensar nisso”, afirma.