HEALTH & WELLNESS Empresas de saúde avançam processo de digitalização Com unidades independentes e munidas de vastos planos de investimento, empresas tradicionais como GE, J&J, Siemens e Philips aceleram transição para o modelo de healthtechs e se tornam protagonistas durante a pandemia. Págs. 38 a 42 Técnicas médicas digitais, menos invasivas e mais eficazes, estão no radas das empresas ISTOCK 38 Health & wellness / CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIDAS CONTRA INIMIGO COMUM ! ' Empresas tradicionais como GE, J&J, Siemens e Philips têm unidades independentes e bilionárias, em transição para o modelo de healthtechs, que se tornaram cruciais com a pandemia Por THAÍS MONTEIRO tmonteiro@grupomm.com.br A pandemia do novo coronavírus evidenciou a ciência como grande arma, mas também escancarou as lacunas no sistema de saúde brasileiro e nos países mais afetados. Enquanto as vacinas estão em desenvolvimento, os players do setor de saúde e bem-estar voltam seus esforços para o uso da tecnologia como forte aliada para consultas em período de isolamento, organização de banco de dados e atividades que podem ser feitas em casa para evitar o sedentarismo. No centro de tudo está a inovação que, anualmente, tem recebido bilhões de dólares de companhias globais e colocado a saúde no pódio como unidade rentável, com bom retorno de imagem e resultados positivos tanto para negócios voltados ao consumidor quanto para parceiros e fornecedores. Empresas como Johnson & Johnson, Siemens, Philips e GE criaram unidades independentes voltadas especificamente para a saúde e, com a Covid-19, avançam com técnicas médicas digitais, menos invasivas e mais eficazes. Globalmente, a Johnson & Johnson Medicai Devices, divisão da Johnson & Johnson voltada à produção de dispositivos médicos, é a segunda maior da companhia do grupo em faturamento total, o que a torna maior, inclusive, do que a unidade de produtos de consumo. Em 2019, a empresa investiu US$ 11,4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. O foco da divisão é oferecer soluções de cirurgia, ortopedia, visão e intervenção, conectando médicos, pacientes, hospitais, cirurgiões e demais profissionais da saúde. "Buscamos criar inovações que simplifiquem procedimentos, promovam eficiência, reduzam complicações e, consequentemente, tragam maior segurança para as cirurgias e mais qualidade de vida para o paciente” explica Fabrício Gampolina, diretor sênior de healthcare transformation da Johnson & Johnson Medicai Devices. A companhia começou a investir em produtos médicos desde a sua fundação, em 1886. Os primeiros produtos desenvolvidos e produzidos pela J&J foram as suturas estéreis, gazes e curativos cirúrgicos. Agora, a J&J trabalha com procedimentos cirúrgicos Cirurgias digitais ou 4.0, baseadas em plataformas como a da Johnson & Johnson, representam a evolução da ciência combinada com a tecnologia meio & mensagem • 14 set 2020 □ IV/ WEIN8ERG CLARK PHOTOGRAPHY, 39 COVID-19 menos invasivos. “Ainda hoje nos vemos como uma startup de 134 anos que busca resolver as grandes necessidades de saúde dos pacientes',' diz o executivo. Na concepção da empresa, a inovação está ligada à revolução tecnológica para aprimorar, e não substituir, o trabalho médico. Essa postura permitiu, por exemplo, avanços da cirurgia aberta para a disruptiva laparoscopia, que é um procedimento minimamente invasivo. Depois, evoluiu para a cirurgia robótica. E, agora, para a cirurgia digital e colaboração aberta. A cirurgia digital ou 4.0 "converte" o paciente em dados que serão processados para que sejam usados com o máximo de acuidade e o mínimo de interferência física no paciente. “Acreditamos que, para responder aos desafios presentes e futuros da área de saúde, não basta contar com a inovação que desenvolvemos dentro de casa. Precisamos da conexão Health & Wellness é um projeto especial de Meio & Mensagem focado no segmento de saúde e bem-estar. Este é o segundo de quatro capítulos com reportagens e entrevistas nas edições semanais, que se complementam com uma série de quatro episódios em vídeos e uma plataforma que hospeda todo o conteúdo, no endereço health.meioemensagem.com.br com o mundo externo, trabalhando de forma colaborativa com parceiros de valor" afirma Campolina. Nesse sentido, o JLabs (Johnson & Johnson Innovation), laboratório de inovação da empresa, funciona como aceleradora de soluções que impactam a saúde e dá toda a estrutura de apoio a startups. A divisão realiza o Desafio 100 Open Startups, que tem o objetivo de buscar startups da saúde que desenvolvem soluções digitais para a conexão da jornada de cuidado do paciente, cuja meta é a melhoria no acesso à sua saúde e a busca por melhores desfechos clínicos. Empresa independente A importância do setor de healthcare para a marca Siemens resultou em fazer da antiga divisão uma empresa independente, em 2015, que ganhou o nome Siemens Healthineers. Essa empresa tem centros de pesquisa e desenvolvimento e, em parceria com instituições de saúde e universidades, investe, anualmente, € 1 bilhão em novos produtos e soluções, gerando cerca de 12,5 mil patentes por ano. Esse esforço já atinge 200 mil pacientes por hora que recebem tratamento ou diagnóstico por meio dos equipamentos e soluções da Siemens Healthineers. "Temos quatro promessas fundamentais de valor que orientam a todos, tanto interna quanto externamente: a expansão da medicina de precisão, a transformação da entrega dos cuidados com a saúde, o aprimoramento da experiência do paciente, tudo tendo como pano de fundo a digitalização", explica Armando Lopes, diretor-geral da Siemens Healthineers no Brasil. Foi a partir de 1896 que a Siemens passou a se envolver com a saúde, quando produziu os primeiros equipamentos comerciais de raio-X com o físico alemão Wilhelm Conrad Rõntgen. Atualmente, a empresa trabalha principalmente com diagnóstico por imagem, diagnósticos laboratoriais, terapias avançadas, medicina molecular e oferece serviços de manutenção e soluções digitais em TI para healthcare, além de soluções para instituições de saúde, hospitais, clínicas e laboratórios de diagnóstico. Muitas soluções são desenvolvidas conforme a demanda. Um exemplo é a pandemia do novo coronavírus. A Siemens teve que começar a trabalhar com maior foco no diagnóstico por imagem por meio da tomografia e em testes de detecção do vírus ou dos anticorpos do corpo reagentes. A empresa se tornou colaboradora do projeto RadVidl9, com o Hospital das Clínicas, que reúne dados sobre casos de todo o País, enviados por radiologistas, usando imagens de radiografia e tomografia da região do tórax em busca de padrões. “O mercado de saúde já vinha passando por profundas mudanças como consolidação, industrialização e gestão da saúde. Com a pandemia, muitos processos se aceleraram como a telemedicina, por exemplo, e para outros será preciso uma reformulação. De qualquer forma, continuaremos apostando muito em inovação como a inteligência artificial (IA), novos modelos de negócios e a eficiência das operações e transição para um modelo cada vez mais próximo do cliente" avalia Lopes. A Philips está há quase uma década no processo de migração para focar os negócios apenas em healthcare. Entre 2011 e 2015, a empresa vendeu suas unidades de TV, áudio e iluminação e, atualmente, está separando sua divisão de eletroportáteis das demais. João Pedro Garcia, head de marketing Latam da Philips, diz que a marca está se transformando em healthtech, focada em promover mais acesso e qualidade a diagnósticos e tratamentos. "Em 2011, globalmente, a Philips resolveu avaliar seu posicionamento, levando em consideração os desafios que a população mundial enfrentava e o impacto positivo na vida das pessoas com essa transformação. Assim, escolhemos o setor de saúde, que inclui desde estabelecer um estilo de vida saudável e preventivo, até a necessidade de realizar diagnósticos e tratamentos, no sistema de saúde ou em casa. É o conceito que chamamos de health continuum, que entende a saúde como um ecossistema que precisa ser integrado através de equipamentos e softwares" explica o executivo. A empresa começou a trabalhar com saúde em 1919, quando lançou o primeiro equipamento de raio-X. A divisão de saúde se estrutura sob quatro pilares: experiência dos pacientes; experiência dos profissionais de saúde; produtividade e menor custo para as instituições de saúde; e qualidade dos resultados. Para os consumidores, a Philips testa o aluguel de produtos de casa; para profissionais de saúde, faz vendas consultivas de soluções que combinam software e equipamentos. A Philips investe 12% da receita anual em pesquisa e desenvolvimento. Em 2019, esse valor somou € 1,8 bilhão. Das vendas da companhia no segundo trimestre deste ano, 75% foram de diagnóstico e tratamento, e 25%, de saúde pessoal. Segundos dados da Philips, suas iniciativas na área chegaram a 1,6 bilhão de pessoas. A meta é chegar a três bilhões até 2030. Poder da IA A Philips tem investido intensamente no uso de IA na saúde. Sua meta é combinar o poder da IA com o conhecimento do domínio humano para criar soluções que se adaptam às necessidades e ambientes das pessoas. O princípio consiste em ajudar os consumidores a viver estilos de vida saudáveis e auxiliar os profissionais de saúde a melhorar a experiência do paciente, qualidade do serviço e, obviamente, na redução de custos. E quem está por detrás disso é a Philips Research, organização global voltada a apresentar inovações, que trabalha com opções de tecnologia para a área de saúde e bem-estar. Outra estratégia da empresa é adquirir empresas de software que desenvolvem aplicativos para o público, em geral, ou para pais acompanharem o desenvolvimento de seus filhos e softwares de gestão hospitalar e de imagens. A empresa espera, ainda, integrar dados dos pacientes e torná-los acessíveis. Isso facilitaria o compartilhamento de informações. Em momentos de crise como o da atual pandemia, compartilhar dados tem se mostrado um desafio. "Inovação é fundamental. Sem inovação, é impossível transformar o setor de saúde, gerar um estilo de vida mais saudável ou oferecer soluções para profissionais ou pacientes. É essencial preparar as instituições de saúde para que possam atender os pacientes com o mesmo recurso e qualidade, com serviços e resultados mais rápidos, menor custo e maior precisão" afirma o head de marketing da Philips. “No entanto, é necessário que diferentes tecnologias estejam integradas e as informações conectadas, de forma que seja possível extrair o máximo de proveito do que podem oferecer tanto aos pacientes quanto às instituições, sistemas de saúde e governos” assinala. Assim como a Siemens Healthineers, a General Electric destina US$ 1 bilhão em pesquisa e inovação para a GE Healthcare, o que a torna a divisão da empresa com o maior investimento na área de P&D. A GE Healthcare foi responsável pela geração de US$ 20 bilhões dos US$ 95,2 bilhões de faturamento global da companhia em 2019. A participação do segmento de saúde do Brasil é de cerca de 20% da receita anual. "A divisão de healthcare tem se mantido consistentemente representativa para a GE ao longo das últimas décadas. Sabemos que estamos produzindo tecnologias e soluções que melhorarão a vida das pessoas, nos momentos que importam" afirma Marcelo Bouhid, CMO da GE Healthcare para a América Latina. Fundada em 1892, a GE coO PATROCÍNIO VivaBem 14 set 2020 • meio&mensagem 4o Health & wellness Equipamentos avançados, como o da GE Healthcare, reduzem procedimentos médicos invasivos meçou o trabalhar com saúde em 1896 com o desenvolvimento de equipamentos elétricos que permitiram a produção de raios-X e o uso de imagens estereoscópicas para diagnosticar fraturas ósseas. A colaboração é considerada pela empresa ingrediente fundamental para a inovação da saúde. "Para ajudar a compreender necessidades clínicas não atendidas e no desenvolvimento da tecnologia adequada para atender a essas necessidades, resultando no melhor atendimento ao paciente” aponta o CMO. O trabalho colaborativo, para a GE, fornece valor aos pacientes e à sociedade. A empresa também colabora com pesquisas por meio de produtos e empréstimos de equipamentos ou apoio científico a projetos individuais ou multicentros, com instituições públicas ou privadas, para pesquisa pré-clínicas ou clínica. Ecossistema brasileiro Segundo Fabrício Campolina, diretor sênior de healthcare transformation da Johnson & Johnson Medicai Devices, o Brasil tem um rico ecossistema de inovação e de healthtehcs que ajudam a cocriar saídas para promover mais acesso à saúde de qualidade e aprimorar o cuidado com o paciente. A J&J MD lançou, na América Latina, o aplicativo Data Tracker, que permite a captura digital dos principais indicadores operacionais do centro cirúrgico, possibilitando uma gestão mais efetiva dos recursos físicos do hospital. Já a GE Healthcare tem um time local que desenvolve soluções em inteligência artificial, big data e analytics para oferecer mais conforto, segurança para os pacientes e maior qualidade de diagnóstico; e outro focado em suporte para execução de projetos de pesquisa clínica. Os investimentos da Siemens Healthineers, em parcerias com o InovaHC, Sírio-libanês, Hospital Israelita Albert Einstein e universidades brasileiras, como a Unicamp, colocaram o Brasil na rede global de inovações. "O Brasil ocupa um lugar de destaque em nossa organização, onde temos centenas de engenheiros e especialistas disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, com sistemas de monitoramento remoto e acompanhamento em tempo integral das demandas dos nossos clientes. O País, inclusive, é um polo importante para o desenvolvimento de soluções e contamos com uma fábrica e montadora de equipamentos de imagem em Joinville (SC)’,’ diz Armando Lopes, diretor-geral da Siemens Healthineers no Brasil. A percepção da Philips sobre o País é similar. João Pedro Garcia, head de marketing Latam da empresa, afirma que o Brasil é onde a Philips tem as maiores oportunidades para uma transformação e capacidade de mudanças na saúde. "A adoção de tecnologia é relativamente rápida”, diz. Para Garcia, a pandemia deixou evidente os desafios do segmento, como a digitalização dos procedimentos e informações de hospitais, e o público mais consciente sobre adotar um estilo de vida mais saudável e preventivo. “Neste contexto, entendemos que surgirá uma necessidade de novas tecnologias, o que irá acelerar a entrada das soluções que estavam em baixa” afirma o head. A Pfizer é uma das dezenas de farmacêuticas que estão na segunda fase de testes da vacina para a Covid-19, cujos resultados saem em outubro Esforço reconhecido Diversos laboratórios estão envolvidos no desenvolvimento da vacina que, espera-se, prevenirá a contaminação pela Covid-19. Uma das empresas envolvidas nessas pesquisas é a Pfizer. No Brasil, os estudos estão sendo conduzidos no Centro Paulista de Investigação Clínica (Cepic), em São Paulo, e na Instituição Obras Sociais Irmã Dulce, na Bahia. No momento, o estudo clínico está na segunda fase de testes, acompanhando 30 mil pessoas globalmente. A expectativa da companhia é apresentar os resultados dessa etapa ao final de outubro para as autoridades regulatórias. De acordo com a Pfizer, se eles forem positivos, a vacina poderá ser aprovada ainda este ano. 0 desenvolvimento e, eventualmente, a patente das vacinas que vão sanar o problema da pandemia global, geram, paralelamente, ganho positivo para a imagem da farmacêutica. Cristiane Santos, diretora de comunicação e assuntos corporativos da Pfizer, diz que esse impacto positivo é resultado dos esforços da empresa. No início da pandemia, a Pfizer decidiu priorizar a segurança de seus colaboradores e familiares, manter o fornecimento de seus medicamentos e vacinas e buscar uma resposta terapêutica que ajudasse a combater o vírus. “Desde o início, temos ressaltado a importância da ciência para vencer esse cenário desafiador. Inovação e pesquisa são o cerne de tudo que fazemos e a atual situação que enfrentamos reforça o impacto positivo que empresas como a Pfizer podem trazer para a sociedade", explica. A ciência como solução para esse desafio integra a estratégia da Pfizer: disseminar e democratizar o acesso a informações de qualidade para combater as notícias falsas sobre a doença. Para isso, a executiva diz que a empresa tem trabalhado para atender as dúvidas dos veículos de comunicação, governo, profissionais de saúde, público colaboradores, e compartilhando informações sobre os estudos clínicos que estão sendo realizados no Brasil, nos Estados Unidos, na Argentina e na Alemanha, por meio de comunicados globais e locais e com lideranças dos centros de pesquisas à disposição para comentar os estudos no País. “Temas que, até há pouco tempo, eram considerados difíceis de abordar com a população, em geral, como estudos clínicos, agora fazem parte da pauta dos jornais diários. É uma excelente oportunidade para desmistificar o processo de desenvolvimento de medicamentos e vacinas, bem como reforçar a importância da inovação, da ciência e da indústria farmacêutica para a saúde da população", afirma a executiva.