Internações por covid-19 sobem em hospitais de elite em SP Alta de infecções na classe média fez com que hospitais privados da cidade de São Paulo registrassem aumento de atendimentos e internações por covid-19 nas últimas semanas. No Hospital Sírio-Libanês, o número de internações por covid19, que havia recuado para 80 em outubro, agora é de 120, sendo 50 na UTI. Os números também estão em alta no HCor, no Vila Nova Star e no São Camilo, metrópole/pág. ai6 Médicos atribuem alta ao relaxamento da quarentena na classe média alta nas últimas semanas; gestores já discutem reativar leitos exclusivos para a doença. No Sírio, n.Q de pacientes salta de 80 para 120. Vila Nova Star e São Camilo também receberam mais pacientes Hospitais de elite de São Paulo veem aumento de internações pela covid-19 ALEX SILVA/ESTADAO-18/3/2020 Hospital Sírio-Libanês. Internações por covid-19, que haviam diminuído, voltam a crescer: reversão da queda na capital começou em meados de outubro Felipe Resk Ludimila Honorato João Ker Com alta de infecções na classe média constatada na capital paulista, hospitais privados de São Paulo voltaram a registrar aumento de atendimentos e internações por covid-19 ao longo do último mês. Já na rede pública municipal, boletins epidemiológicos da Prefeitura mostram que o índice vinha recuando significativamente mês a mês, mas acabou estacionando em novembro. No Hospital Sírio-Libanês, por exemplo, o número de internações por covid19 havia recuado para 8o em outubro e agora voltou a registrar 120, o mesmo patamar de abril, fase mais aguda da pandemia. Entre os pacientes, 50 estão na UTI. Já o HCor, no Paraíso, zona sul, chegou a internar cem pessoas no período mais crítico, mas viu o índice cair nos meses seguintes. Há três semanas, porém, as internações subiram de novo: de 17 registros, em 20 de outubro, para 30, no último dia do mês. Desde então, a taxa tem se mantido acima desse patamar. Esses dados foram publicados pela colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, e confirmados pelo Estadão. “Em nenhum dos dias, o índice foi inferior ao de 20 internações diárias”, diz o HCor. Considerando só leitos de UTI, havia 13 pessoas no hospital por casos confirmados ou suspeitos de coronavírus no início da semana. O Hospital Vila Nova Star, que atende principalmente público de alta renda, confirma, em nota, que houve “aumento no número de pacientes com suspeita de covid19” no pronto-socorro, mas não informou o número de atendimentos. “Ressalta, porém, que a quantidade de internações permanece estável”, diz o comunicado. Por sua vez, o São Camilo afirma ter notado crescimento “gradual e muito sutil” tanto nas internações quanto nos atendimentos do PS. Em 13 de setembro, a unidade registrava 39 pacientes internados — média que se manteve pelo mês seguinte. Agora são 45, segundo último boletim do hospital. “Desde 12 de outubro, temos constatado uma reversão da tendência de queda e, em alguns hospitais privados, aumento de internações”, descreve o especialista em saúde pública Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de PesquisaClínicae Epidemiológica do Hospital Universitário da USP, que reúne e monitora boletins de unidades na capital. “O crescimento observado é lento e gradual”, e não acelerado como em abril. O monitoramento tem notado, ainda, alta de pacientes em prontos-socorros dessas unidades por suspeita de coronavírus, diz Bittencourt. “O aumento de infecções é principalmente entre os mais jovens, grupo mais cansado do isolamento social e tem menor chance de evoluir para quadro grave”, diz. Ainda assim, gestores de alguns A COVID-19 NO PAÍS • Com dados do consórcio da imprensa e do ministério (recuperados) TOTAL NOVOS REGISTROS DE DE MORTES EM24H.ATÉ AS MORTES 20H DE ONTEM 163.406 564 MÉDIA MÓVEL TOTAL DE TESTES MORTES (7 DIAS) POSITIVOS 319 5.749.007 NOVOS CASOS NÚMERO DETECTADOS EM 24H, DE ATÉAS20H DE ONTEM RECUPERADOS* 47.724 5.064.344 •NÚMEROS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE hospitais já discutem reativar comitês de crise e retomar leitos exclusivos para covid19. Ele explica que não há banco de dados público sobre ocupação na rede privada e as informações dependem de divulgação voluntária de cada unidade. Também pondera que hospitais de referência recebem grande volume de pacientes de outras cidades ou Estados. Também há unidades que mantiveram o índice estável no último mês. No início de abril, o Albert Einstein chegou ater 135 internados por covid19, 112 deles na UTI número que caiu para 56 em outubro. Nesta semana, eram 59. Fernando Gatti, coordenador médico do serviço de controle de infecção hospitalar do Einstein, acredita que há um efeito de redistribuição de casos não atendidos pelo Einstein. “Recusamos pacientes de outros municípios e Estados pelo grande volume de cirurgias eletivas que voltamos a assumir. Optamos por assumir essa demanda que ficou um bom tempo reprimida”, explica. A Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp) afirma que, diante de amostra pequena, é cedo para determinar tendência de aumento. Em São Paulo, há 116 hospitais privados, sem contar os filantrópi2 PERGUNTAS PARA... Raquel Stucchi, professora de Infectologia da Unicamp IA que se devem essas novas infecções na capital? • Ainda não saímos da i.a onda. Parecia que íamos sair e chegar mais perto da base da curva epidemiológica, mas casos e internações voltam a aumentar. Isso se deve à maior flexibilização: abriram mão de distanciamento social, higienizar as mãos com álcool em gel e uso correto de máscara; voltaram a fazer festa, reunir amigos em grupos grandes, viajar com quem não é do convívio diário, ir a bar e restaurante. Como avalia a evolução do perfil de infectados? A • pandemia começou no Brasil pelos mais ricos, que tinham viajado para a Europa. Depois, se estendeu para a população mais periférica, que precisou sair para trabalhar e não conseguia ficar em casa isolada. Agora, possivelmente, temos pessoas que estavam em home office e circularam menos, mas começaram a sair sem os cuidados devidos, expondo-se ao vírus. /J.K. cos. Para o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado (SindHosp), os dados podem ser sazonais e não necessariamente apontam tendência de alta para a cidade e o Estado. Rede municipal. Já nos hospitais municipais, boletins epidemiológicos da gestão Bruno Covas (PSDB) indicam que, em geral, as internações pararam de cair em novembro. No dia i.°, havia 642 pacientes por covid19, considerando unidades da Prefeitura e leitos contratados na rede privada. Já ontem, eram 655 internados, segundo o boletim mais recente. Esse comportamento contrasta com o observado nos meses anteriores, com quedas consecutivas na capital. Entre os dias i° e 15 de outubro, por exemplo, São Paulo havia saído de 807 internações para 623, recuo de 22,8% em duas semanas, que fez a cidade chegar ao patamar atual. Para comparação, o patamar era de 1,2 mil casos, em agosto, e 930, em setembro.